Autora: Josianne Luise Amend (JosiLuA)
Hoje tô com vontade de comer um pão francês. Daqueles que a casquinha faz crec, quentinho, saído do forno naquela hora. Colocar nele manteiga, vendo ela quase derreter, queijo e presunto. Isso me faz lembrar as belas tardes de café na casa de meus pais. À minha frente, uma xícara de café com leite, com a fumacinha criando imagens no ar.
Naquela época, não estava incomodada se tinha glúten, agrotóxico ou com a sujeira. Apenas saboreava feliz, numa boa conversa com meus velhos. O cheirinho de café deixava tudo melhor. Meu pai morreu com 82 anos, depois de ter sofrido uns 40 com sequelas de um acidente. Mesmo assim, ficou um bom tempo vivendo bem, caminhando e feliz. Se chegássemos no fim de tarde na casa deles, dávamos carona para ele vindo a pé da panificadora, todo feliz com um baita pacote de pães e outras guloseimas.
Comer era algo prazeroso e que reunia a família em risos, contos e prosas. Os médicos nos disseram que se ele não fosse tão forte, não teria sobrevivido tanto tempo. Ele adorava embutidos, comia todos os dias (até no hospital) dois ovos quentes, carnes com gorduras, queijos dos mais diversos tipos e cheiros, amava comida alemã, massas e broas. Era um homem forte! Sempre tinha um soco encalhado na musculatura do braço.
Parece que hoje, além de não existir mais estes encontros de família, todos têm medo de comer qualquer coisa, porque tudo engorda, faz mal e dá câncer. Diga-se de passagem que meu pai não morreu de nada disso. Olho para as crianças e tenho um pouco de pena por elas viverem correndo, sem terem esses bons momentos com pais, avós, tios e primos. E é um controle mental absurdo nas redes sociais quanto à alimentação.
Se entendêssemos que nem tudo se refere ao que se come, mas sim ao que se vive, como nos alimentamos (felizes ou pressionados), a quantidade que comemos e como e o que fazemos da vida, seria mais compreensível viver feliz, realizando desejos. O encontro para um chá da tarde com bolo, ou se deliciar num empadão seria mais prazeroso sem os comentários intrusos de como amanhã ficaremos em jejum. A vida está chata!
Meu pai morreu comendo por um tubo gástrico, sem poder se deliciar com sabores e olhar para o que estava comendo. E se temos esta oportunidade, ignoramos. O medo nos faz recuar porque não queremos adoecer. Mas, as pessoas deveriam prestar atenção no estresse diário, alimentando-se de frustração e tristezas, buscando na diabetes o doce (que não podem mais comer) para suas vidas. A pressão alta não vem de brigas ou problemas financeiros, mas de comer gordura. Só para constar, meu pai não tinha nada disso, seus exames eram sempre normais, por mais que brigássemos para ele se cuidar.
Acontece que a vida é única e não será um bombom sonho de valsa que irá nos matar. O que nos mata (talvez) seja o exagero, a indisciplina, não só no excesso da comida, mas no plano mental e emocional também. Meu sogro morreu subindo a serra depois de brigar com um cara que fechou o carro dele. Teve um infarto, parou o carro e morreu nos braços da minha sogra. Ele também adorava churrasco, cerveja e comia bem. Mas era uma pessoa nervosa, sempre pronto a levantar a voz.
Sei que este texto terá burburinho, mas como terapeuta e espiritualista, não posso deixar de mostrar o outro lado de tudo que se ouve e lê hoje. É muita carga para levar na vida, além de tudo que fazemos. O prazer em comer é mágico, quando se faz pela vida, com satisfação e alegria. Cada um sabe bem de sua saúde, mas se um dia precisar de força, energia e nutrientes e não puder comer, lembrará de algumas coisas que deixou de comprar ou guardou para nunca ser visto. Quem sabe tenha satisfação em usar uma sonda ou uma roupa tamanho 16. Parece agressivo, mas há um bem no paladar que reúne pessoas e sentimentos. Só precisamos aprender a nos libertar do medo e deixar que o corpo receba o alimento como fonte de vida. E, se palavras são energia, diga algo bom sobre o que come!
NAMASTÊ