A LEMBRANÇA DAS NOITES QUENTES

Autora: Josianne Luise Amend (JosiLuA)

Noite quente, ar morno. Faz-me lembrar o passado, onde a juventude ganhava vida na noite. Há uma beleza nessas noites, quando os vagalumes brilhavam e os grilos estridulavam. Antigamente, as ruas ficavam lotadas de pessoas. Crianças brincavam e gritavam, adultos colocavam a conversa em dia. Não se importavam com o trabalho do dia seguinte, apenas em relaxar. Essa era a forma gostosa de viver.

O cheiro de fritas, bifes ou sopas pairavam no ar. Podíamos observar as cozinheiras atrás das cortinas brancas e esvoaçantes da cozinha com seus aventais, mexendo em panelas e abrindo potes. Vez ou outra uma mãe gritava do portão chamando alguém e a brincadeira tinha um tempo.

Não se pensava em medo de assaltos, todos se cumprimentavam. A bola se perdia em meio ao mato crescido de terrenos baldios e a turma se punha a procurar, com os pirilampos iluminando. Alguns trocavam as figurinhas do álbum, outros apenas observavam da janela de sua casa. Mas a vizinhança se conhecia,  todos sabiam seus nomes e tinham algo para contar.

Não durava muito, apenas aquele tempo gostoso de um chimarrão ou um salgadinho de pacote passar de mão em mão até acabar. Quando o jantar ficava pronto, cada um seguia seu caminho com um abraço ou aperto de mão. Depois da correria, só um banho para tirar o suor e saborear a comida gostosa da mãe. A janela ainda aberta era o caminho de mariposas e ainda existiam os sapos coachando e tentando namorar.

Ainda existem lugares assim, onde há mais vida além de portas e janelas, livres do medo e do relógio meticulosamente definido. Onde se sente o cheiro da mata e dos bichinhos, onde se vê besouros e joaninhas e onde as pessoas convivem e não apenas passam umas pelas outras. Tenho saudade desse tempo! Onde vivo não há mais este tipo de vida. Nem se ouve mais os insetos e animais conversando. E, nestas noites quentes o que sobrou são os aparelhos eletrônicos e a solidão, mesmo numa casa com mais de uma pessoa.