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Coração Aberto

Quando decidi escrever me senti uma borboleta saindo do casulo. E junto com ela saíram os sentimentos e os pensamentos que muitas vezes não conseguimos transmitir. Descobri que ser poeta é opinar sem medo, escrever é desvincular-se de segredos e expressar-se é viver intensamente.

JosiLuA

quarta-feira, 23 de abril de 2025

DEFEITOS OU INCOMPREENSÕES?

Autora: Josianne Luise Amend (JosiLuA)



Desde muito jovem fui organizada demais. Tenho minhas coisas sempre em ordem, gavetas, armários e até ferramentas. Aprendi muito cedo e com muito rigor a ser responsável e ordeira e, não sei se por algum tipo de  transtorno ou loucura, não gosto de ver as coisas, sem explicação plausível, fora de seu devido lugar. Se você acha isso correto e bom está pensando como eu pensei a vida toda. O problema é que esta neura extrapolou os limites admissíveis do bom senso e somente agora, com 63 anos, depois de ouvir algumas verdades, tomei consciência do meu grau de invasão. 

Pensando unicamente em ajudar as pessoas, porque via que elas estavam sem tempo, ou porque queria ser gentil de alguma forma, comecei a ajeitar a vida delas, mudando suas coisas dentro dos armários, geladeiras, guarda-roupas e até os móveis de lugar, se me chamavam para ajudar na limpeza. Sempre tive facilidade em decorar e tornar as coisas mais acessíveis e metodicamente organizadas, e me empolgava ao ver que podia dar um jeito para facilitar a vida de alguém.

Acontece que de alguma forma eu queria colocar o mundo em ordem. Não o meu mundo, mas o de todos.  E a ficha de que eu era intrometida e desrespeitosa caiu quando comecei a receber flechas duras e certeiras no meu coração. Achando que eu estava sendo útil e prestativa, não entendia que estava incomodando e abusando da liberdade de estar na casa ou escritório delas. Ao meditar, ouvi uma voz dizendo "cuide da sua vida e deixe que elas cuidem da delas"!  Mesmo tentando me desculpar com minha própria consciência dizendo que o que fazia era para ajudar, entendi através da dor que estava mais do que na hora de eu olhar para dentro do meu limite e cuidar da minha própria vida e das minhas gavetas, pias, armários e móveis.

Cada pessoa tem um jeito de viver em seu ninho. Uns gostam de preto, outros do branco, uns de água e sabão, outros de desinfetantes. Uns misturam panos de limpeza com os de louça e uns encontram suas peças íntimas uma em cada gaveta. Mas é assim que elas se encontram! Vivem bem nas suas próprias desordens. Não sou melhor que elas porque tenho mania de organizar. A vida me ensinou a ser assim e talvez, por ser mística, sempre penso que a energia flui melhor quando a ordem é estabelecida. 

Só que eu estava desorganizando o que achava desorganizado, para alguém que acha correta a sua forma de organizar. Não sei se entenderam isso, mas depois de tanto pensar, consegui perceber que no templo de cada um, se reza para o santo que está no altar. E se não concorda com o santo, vira-se as costas e sai do templo. Minha mania de dizer " fica melhor assim"  só estava me afastando das pessoas que amo. E eu, na minha soberba, achava que o meu "jeitinho" deixaria as pessoas gratas pela força e ajuda. Mal sabia eu que elas estavam me enviando tanta energia ruim de raiva e antipatia pelas minhas atitudes, que sem me dar conta eu tinha baixas de disposição, sentia tristeza e depressão.

Percebi também que algumas preferem pagar para alguém colocar suas vidas no lugar e, se alguém estranho resolver deixar as coisas diferentes, elas aceitarão com naturalidade e ainda elogiarão. Porque pagar parece ser uma forma suave de dizer a si mesmo que concorda com as mudanças. A compreensão de tudo isso nos faz enxergar um outro lado da vida que estávamos deixando de lado: o nosso próprio! Deixando de nos preocupar com a grama do vizinho, temos mais tempo para plantar novidades no nosso jardim. E preenchemos esse tempo que gastamos pensando em como melhorar nossas vidas com atividades que as deixarão mais interessantes e proveitosas. 

Li algo sobre "como ajudar alguém acaba terminando em rancor". Na primeira vez te agradecem, na segunda talvez, na terceira se acostumam e daí para frente, se dizemos não, viram a cara. No caso do texto, talvez as pessoas precisem se livrar de nós para viverem felizes e nós do peso que colocamos nas costas e que, na verdade, são delas e que têm que carregar. Só assim teremos uma vida mais leve. Cada um é responsável pela forma com que tem para fornecer a si mesmo prazer, tempo e vontade de viver. Precisamos realmente entender cada mundo e ao adentrá-lo ser apenas observadores, até que nos seja pedido uma sugestão. No mais, se fingir de morto!

Quero sinceramente me desculpar a todos que, sem intenção, atrasei suas vidas, estimulei seu sentimento de raiva e transformei seus corações. Porque estou num processo de compreensão e libertação, buscando com cada manifestação sincera ser melhor e aprender. Trago ainda traços de uma infância a qual precisei ser assim e achava que o mundo todo ao meu redor precisava ser organizado, talvez para ainda agradar. É do meu mundo que preciso cuidar e ter orgulho. Gratidão por cada pessoa que está abrindo meus olhos e me fazendo ver um lado que estava obscuro, mas que está se iluminando. Nem todos conseguem enxergar uma dádiva nas atitudes contrárias ao que recebem. Tenham paciência comigo, por favor! E, se precisarem, estarei aqui pronta aos "nãos, talvez ou me ajude".

P.S.  Pode demorar ou ser imediata a aprendizagem, mas se estivermos com a mente aberta e o coração disposto a aceitar, a transformação será visível. Acredite!  "Perdoai minhas ofensas, assim como perdôo a mim e a todos! "

NAMASTÊ 

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