Autora: Josianne Luise Amend (JosiLuA)
Não tenho medo da velhice. Medo é uma palavra muito forte para uma simples condição de vida. Dependendo do tempo, tive problemas em todas as fases da minha. Tive dores menstruais, dores de parto, enfrentei concorrência para encontrar um amor, precisei ficar focada no espelho, mais que na beleza de uma mesa farta, tive que enfrentar viagens profissionais, críticas e estar à mercê de provocações e assédios. Ouvi desaforos de chefes, de colegas de trabalho e, apesar de todo esforço nos estudos, hoje vejo que poderia ter acertado mais nas escolhas.
Então, o que faz o nome idoso assustar tanto, se as decisões parecem mais acertadas, há mais compreensão e até gratidão pela solidão que muitas vezes nos visita? Não há mais a preocupação com cólicas, nem de fazer dietas absurdas, mas apenas nos cuidar para ter mais disposição. Talvez a descoberta de tudo isso não seja uma constante determinada pelo relógio e data, mas pelo crescimento de cada um. Uns talvez nunca percebam isso e fiquem presos aos próprios padrões criados.
A beleza externa se transforma em interior. Nos importamos mais com o caráter do que com o físico de quem possa se aproximar. Estamos mais antenados e não desesperados. Temos mais calma e sabedoria para definir quem fica e o que não precisamos mais. É bem verdade que ficamos mais sensíveis e propensos à intensidade dos sentimentos exagerados e até maldosos dos jovens. Isso nos fere à toa, nos magoa em silêncio.
Temos mais tempo para pensar e analisar. E acabamos descobrindo um mundo escondido nas dobras do tempo, onde disputas e desesperos dão lugar a alianças e esperança. Há uma certa tristeza camuflada no coração acompanhando essa nova condição, que insiste em nos perguntar o por quê de deixarmos passar amores, oportunidades e palavras. E a resposta sorrateira vem cutucar o ego, dizendo que faltou coragem e nos deixamos abalar pelo medo ou pelo excesso de timidez.
Analisamos melhor a vida, não há dúvidas. E, não se pode mais corrigir algumas coisas. Mas sabemos que o tempo agora é fundamental e um pouco carrasco. Afinal, esta dimensão é regida por ele. Ou o usamos de forma sábia, vivendo não só atrás da riqueza material, mas atrás da plenitude espiritual, ou chegaremos na última fase com a sensação de não ter vivido. E é nesta fase que temos tempo de sobra para extrair de nós arte, imaginação e liberdade, sem que precisemos responder ou dar conta do que sentimos.
Tudo no universo tem um tempo, mas também tem uma função na totalidade. O simples grão de areia se encaixa perfeitamente no lugar a ele destinado. Cada um é assim. Vem, cumpre sua missão e deixa rastros. E cada fase da vida é linda, abençoada e magnânima para quem souber olhar para si mesmo e decifrar seu código que abre as portas do futuro, de modo a prepará-lo com lucidez e sabedoria.
Não me importo de adentrar esta porta e descobrir mais um pouco sobre meus novos defeitos, fazendo deles um processo de libertação e transformação na alma. Devemos aproveitar o tempo para nos preparar para o espaço. Que venha ao meu encontro sentimentos cheios de compreensão, conhecimento e discernimento. E que as falhas da máquina possam ser leves o suficiente para eu não deixar de existir enquanto eu pulsar.
NAMASTÊ
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