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Coração Aberto

Quando decidi escrever me senti uma borboleta saindo do casulo. E junto com ela saíram os sentimentos e os pensamentos que muitas vezes não conseguimos transmitir. Descobri que ser poeta é opinar sem medo, escrever é desvincular-se de segredos e expressar-se é viver intensamente.

JosiLuA

terça-feira, 5 de setembro de 2017

FAMILIA AMEND

Autora: Josianne L.Amend (JosiLuA)

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Senti uma vontade inexplicada de falar sobre nós, sobre essa família que tem dentro de si algo indecifrável. Meus antepassados são alemães, viveram duas guerras mundiais. Não sei muito sobre os mais antigos, mas meus avós eram guerreiros. Tiveram sete filhos e fugiram do seu país, para viverem uma vida melhor e sem guerras no Brasil.

Meu avô (opapa, em alemão), era do exército, mas não aderente às idéias nazistas. Ao comprar uma cabine num navio para vir embora com a família, foi retirado à força para ceder lugar à alguém "mais importante". Então acabaram num navio de carga, juntamente com outros, enfiados num porão. No meio do mar, as máquinas pararam e um silêncio profundo tomou conta de todos. Medo e calor, pois estavam no meio de uma guerra. 

Meu avô resolveu sair do porão e verificar o que estava acontecendo. Os tripulantes às bordas, observavam petrificados o mar coberto de escombros e corpos boiando. O navio em que meu avô viria com a família e fora brutalmente arrancado dele, tinha sido bombardeado por um submarino. E todos estavam mortos. Começa aí a continuidade de nossa querida família.

Quero me ater mais na família que meus pais formaram, pois não sei muito sobre a vida particular de meus tios, nem acho justo falar deles. O que sei é que em minhas lembranças mais profundas, recordo um tempo que aprendi a amar as coisas simples, pois delas sentia o amor e a luta para consegui-las. Sempre estávamos juntos. Meus pais parecem ter combinado: enquanto um era amor, o outro era a força. 

Nosso sobrenome era incomum no Brasil até que, ao surgir o orkut, ficamos sabendo de vários grupos familiares dos Amend pelo país. Mas meu texto é sobre a Família Amend formada pelos meus pais. 

Já passamos tudo na vida e continuamos firmes e fortes em nossa fé e amor. Não existem famílias sem brigas e desconfortos. Mas a diferença está no perdão das falhas, dos erros e das palavras mal ditas. E como é bom o abraço que vem depois dessa desculpa. Sim, temos que trabalhar psicologicamente as mesmas coisas que muitas famílias: a mãe, o pai, os irmãos. Cada um buscando sua forma de entender, ajeitar as coisas e melhorar a si mesmo e aos seus sentimentos.

Mas existe algo que me instiga. Mesmo com os choros e velas, estamos sempre juntos. Não grudados, mas juntos. Em coração, em pensamentos e em ligação espiritual. E, se um precisa, lá estaremos. Isso nos foi ensinado pelos nossos pais, que não se conformavam com brigas e distanciamentos. De algum modo nos aconselhavam e, mesmo o orgulho tentando seu domínio cruel, o amor e a consciência acabavam vencendo a guerra. 

Uns ainda precisam lapidar sentimentos, outros estão mais maduros. Mas o "entender" que nem todos sempre estão dispostos, na mesma energia e frequência, faz com que o respeito seja mantido. Talvez a importância de se dar um tempo seja relevante. Cada um segue seu caminho de luta, sem interferir ou prejudicar o do outro. Mas se alguém no caminho tropeça e precisa de ajuda, lá estaremos. 

Percebi que esse brilho passou para as outras gerações. Meus filhos e sobrinhos também são assim. A gente vê o amor e a união entre eles. Sim, temos defeitos. Fazemos coisas erradas também, machucamos e nos ferimos. E isso parece um aprendizado para amadurecimento. E até minhas netas já tem essa preocupação e atenção às necessidades da família. É um laço espiritual intenso e perfeito, que aperta e afrouxa dependendo da situação.

Nossa Família Amend é unida e ponto final. Nosso querido pai viajou para um lugar que ainda não administramos como consciência terrena. Mas sentimos que o laço ainda persiste. Cada vida tem uma história nessa família. Cada membro que tem em seu nome o Amend, sabe honrá-lo. Nos orgulhamos de nosso sobrenome e dignificamos nossos antepassados. Devemos respeitar o que nos foi passado através de anos e anos de história. 

Talvez se pergunte por que me importo com isso, mas vou responder que se você não honra sua história e ancestrais, talvez seja alguém sem passado. E quem não tem passado, não aprendeu nada na vida.

Hoje minha mãe segue sozinha na rédea desta carruagem, conduzindo a família em sua força quase abalada pela perda do amor. Nós, seus filhos, aprendemos que neste momento fortalecer nossa aliança se faz mais importante ainda para assegurar as pilastras desta grande mulher, guerreira e mãe. E, através de gestos e atitudes, mostramos aos descendentes que sermos do bem é o mais importante. Que o Ser está em primeiro lugar. E que o Ter faz parte de uma luta honesta.

Finalmente, pelo menos esses Amend, nunca desaparecerão como família. Pois em cada coração que bate esse sangue, haverá sempre uma luz disposta a seguir na direção que Deus nos solicitou. Temos uma aliança genética de amor, luta e muita união. 

Namastê


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