Autora: Josianne L.Amend (JosiLuA)
Dias atrás, com aquele solzinho quase de meio-dia, mas morno o suficiente para outono, resolvi deitar-me no chão da calçada de casa para me aquecer e ter um momento de tranquilidade. Minha neta mais velha estava comigo. De repente, para brincar com ela que é tão enérgica, mas ao mesmo tempo não perder o momento de paz que estava sentindo, pedi à ela que se deitasse ao meu lado e viesse observar o que eu estava vendo.
Curiosa como é, imediatamente deitou-se e perguntou: o que você quer que eu veja, vovó? Eu apontei para o céu e pedi que olhasse as nuvens brancas correndo com o vento. Algumas chegavam a fazer redemoinhos, mas outras lentamente formavam bichos e objetos. Ela se animou e começou a dizer o que via. Eram dragões soltando fogo, casas, sapos e outras coisas que nossa imaginação nos fazia ver.
Isso me fez pensar nos tempos de outrora, quando esse tipo de coisa era quase uma rotina. O tempo parecia a nosso favor. E comecei a me lembrar de coisas que fazíamos e que realmente era tão bom.
Deitar num cobertor no jardim para analisar as nuvens era uma constante. Principalmente quando as famílias se reuniam num piquenique no meio da mata, sem ter com o que se preocupar. Falo de piqueniques com toalhas no chão e redes amarradas em árvores. Quem fez isso sabe o valor destes momentos.
Era maravilhoso também subir em árvores frutíferas que tínhamos em nossas próprias casas. Colher frutas frescas, sem agrotóxico e saboreá-las sentados em roda de crianças. Hoje, infelizmente as pessoas simplesmente cortam suas árvores, sem saber o verdadeiro significado e valor que elas têm.
As crianças de hoje podem ter mais tecnologia nas mãos, mas não sabem o que é cansar de brincar. Quando não ficam o dia todo internos num colégio, estão com tablets e computadores nas mãos. E as experiências maravilhosas que terão para contar aos netos serão quais?
Brincávamos de fazer cabanas no meio de terrenos baldios, colhíamos diversos tipos de folhas e plantas para passar o giz de cera por elas no papel, carpíamos um lote para fazer um campinho de futebol e, ao chegar a noite, a sensação era de se ter vivido intensamente.
O que aconteceu com esse tempo tão gratificante? Tenho a impressão de que as crianças daquela época brincavam com o corpo, com a mente, com a alma. Festas juninas eram feitas nas ruas, com fogueiras e a vizinhança toda unida, trazia suas cadeiras e algo para juntar às comilanças. Hoje, male mal os vizinhos dizem bom dia.
As aulas de ciência eram mais reais, pois tínhamos conhecimento técnico do que eram os insetos, andando pelo mato. Brincávamos com os grilos, os vagalumes, os formigueiros e os sapos. Ah, os sapos sempre apareciam nos dia de chuva! Pulavam de um lado para outro com seus coachados e nós pulávamos atrás deles. Onde estão eles agora?
Andar de bicicleta na rua era quase uma regra. Não havia perigo ou, se tinha, nossa mente ainda não tinha sido tão massacrada com ele. Pular corda com todos da rua, amarelinha e brincar de pega-pega eram brincadeiras que íam até tarde da noite. Sentir o cheiro do pão feito em casa ou da comida no forno a lenha, realmente não tem preço.
E, ao passar o homem do picolé ( aquele que tocava a gaitinha, lembram?) era uma correria para comprar o de milho verde, de côco, de morango ou de chocolate com gosto de toddy! Cansei de ir caçar siri na beira do mar em noite de lua cheia, com um chapéu de palha nas mãos. Ou de pular de pinguela para nadar em rios cristalinos, com a areia fofa e limpa. Por acaso você lembra de brincar com os cipós em cima de rios, de um lado para outro?
O que posso dizer? A vida muda, temos agora o progresso, a tecnologia e muito mais conforto! Mas, onde ficaram as amizades, os momentos de contato com a natureza, o exercício físico de correr ou andar mais?
Hoje, as pessoas se importam com um sofá que afunde suas nádegas, um carro que marque sua chegada a um lugar ou com a roupa que você só possa usar uma vez e descartar, porque alguém já viu. O piquenique é no fast food. Os bichos são os mortos em museus ou em salas de aula.
Lamento que algumas crianças de hoje, jamais poderão saber que a Terra onde moram tem tantos lugares maravilhosos para se observar, analisar, descobrir por seus próprios meios.
Talvez em algum lugar longe dos grandes centros, algumas delas ainda possam sentir a terra nos pés, a textura das plantas nas mãos e o sabor da fruta que colheram.
Este texto pede que você me ajude a relembrar. Então, se sua infância te traz boas recordações, escreva aqui pelo menos uma delas para que possamos ter a lembrança de um tempo bom! Quem sabe alguém se anime hoje e leve seu filho para um programa "de índio", como dizem alguns. Não sabendo que estes programas são os melhores.
Namastê